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Ao colocar Gezellig num site, me sinto quase nua. Essa é, com certeza, a minha busca mais pessoal por lugares que me acolham. Olhando essa coleção de paisagens, vão ficando nítidas as similaridades, limitações, visões de mundo e privilégios. Tem sido um processo de autoconhecimento e desconstrução entender, observar e buscar novos cenários.

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GEZELLIG

Gezellig tem origem na língua holandesa e um significado intraduzível. Aprendi à reconhecer o conceito na prática, no ano em que morei em Delft, uma cidadezinha no sul da Holanda, durante um intercâmbio na faculdade de arquitetura e urbanismo.

Meu aprendizado em arquitetura mudou depois dessa vivência. Para além das questões acadêmicas, consegui dar um nome à minha busca pessoal por lugares que me acolhessem e me protegessem. Lugares esses que me faltaram na infância e que, por isso, me acostumei a procurá-los atentamente, para me certificar de que existiam.

Gezellig é uma série de fotos de celular que cultivo há alguns anos, como um dicionário de um léxico visual que aqueles que amo compartilham comigo, às vezes até sem saber. 

 

É a minha crença de que lugares acolhedores existem e é também a minha descoberta de que nem tudo num espaço é papel do arquiteto. Umas bugigangas coloridas penduradas na parede ou a atmosfera onírica da luz atravessando um vidro de box encardido às vezes estão fora dos planos de quem desenha um projeto executivo. E tudo bem.

Gezellig significa algo como "aconchegante", "agradável", "amigável", "relaxante", "acolhedor" e é capaz de dar qualificar lugares gostosos, pessoas queridas e situações de encontro e união.

Cada dia mais imagino, projeto, cultivo e vivo na prática em espaços com gezelligheid. Cada dia mais essa busca parece ter menos importância.

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Numa placa na porta da frente, pode-se ler: "A estância está montada naquilo que norteia". Outra placa na porta do fundo diz: "A estância está espalhada em meio àquilo que extravasa".

A pessoa que abre a primeira porta explica: - Cumpro os ritos da casa assentada no olho da lança que me aponta adiante, e adiante não é um ponto à frente, é apenas um lugar onde algo que era distante fica próximo.

Outra pessoa, que abre a porta do fundo, completa: - Eu finco meus pés neste chão e projeto meu corpo no espaço. Então disparo uma seta desde meu centro e a seta, depois de muito rodar, para o meu centro retorna, causando uma explosão de sentimentos que abre muitos tempos dentro de meu corpo.

- Pode entrar - finaliza alguém que surge no meio da casa - Aqui só há uma regra: nunca descansar. porque no sono há um caminho, porque no balanço da rede ou no aconchego do sofá estão surgindo estradas, porque a casa inaugra, a todo instante, uma trajetória.

O que é uma casa? 

Raiça Bomfim e Vânia Medeiros, 2012

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Quando alugamos um apartamento alugamos

uma paisagem alugamos vizinhos com os quais

cruzamos no elevador a temperatura das manhãs

determinados barulhos certas incidências

do sol poeira alugamos as palavras

que nos dirigem os porteiros as distâncias relativas

dos lugares que frequentamos alugamos os lugares que passamos a frequentar o cheiro de tinta o toque

dos tacos alugamos o direito de dizer que aí moramos

o salvo-conduto para entrar e sair e mesmo a permissão

para morrer aí alugamos a memória futura

de um apartamento e odireito de metê-lo

num poema

como se fosse a casa (uma correspondência)

ana martins marques e eduardo jorge, 2017

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MA

Da cultura tradicional japonesa:

"O espaço entre objetos; O silencio entre sons; A quietude entre as ações. Tenho o Ma como uma potencialidade: uma potencial presença, um potencial som, uma potencial ação."

Ma: An Aesthetic of Space-Time

Colleen Lanki, 2009

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WABI SABI

Nascido da compreensão budista mahayana da vida como algo impermanente, marcada pelo sofrimento e, por fim, pelo vazio, o wabi-sabi acrescenta a esse reconhecimento uma sensibilidade distintamente japonesa aos processos e materiais naturais e aos prazeres da simplicidade.

 

Enquanto os ideais estéticos ocidentais clássicos eram de beleza e perfeição, de simetria e de um acabamento fino, o wabi-sabi é duro e realista: nada é permanente, nada é perfeito. Aceitar esses fatos concretos abre a porta para a apreciação realista de uma beleza mais profunda.

As palavras nasceram separadamente e se referiam a coisas diferentes. Wabi descrevia originalmente a solidão de viver na natureza, longe da sociedade; sabi significava magra ou murcha, uma flor passado o seu florescimento. Mas, durante o século XIV, as duas palavras começaram a assumir significados mais positivos, com wabi descrevendo os aspectos mais positivos de viver sozinho na natureza: uma simplicidade tranquila e rústica. Sabi, por outro lado, começou a encontrar beleza na velhice, com um caráter desgastado pelo tempo, concentrando-se na serenidade que pode vir com o tempo, quando o desgaste inevitável se torna uma pátina e as cicatrizes se tornam sinais de experiência.

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GENIUS LOCI

Jurate Markeviciene, pesquisadora lituana, traz o conceito de genius loci da Roma Antiga e o define como “uma qualidade intangível de um sítio material, percebida tanto física quanto espiritualmente”; pode assim falar-se de um fenômeno atribuído a um dado local que, pela ação humana, adquire características específicas, inimitáveis e inamovíveis.

 

Para Markeviciene, como para muitos outros autores, o genius loci é sempre fruto do acaso, surgindo como que espontaneamente e não podendo ser de forma nenhuma recriado após o seu desaparecimento.

genius loci, ou a “aura” de um local, está presente e é percebido através dos elementos constitutivos da estrutura cultural de um local. A interação humana com os locais envolvidos cria, ainda que inconsciente e inadvertidamente, “ambientes” muito próprios, que se sentem e são visíveis, mas praticamente indefiníveis.

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