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Já fiz curso de marcenaria, onde projetei e construí uma mesa inteira em encaixes em madeira. Também ajudei a projetar os gabaritos e as soluções da fachada da casa na Uganda. Entendo a marcenaria como uma bonita dança entre ideia, execução e matéria-prima viva.

MESA Y

Partindo das noções básicas de marcenaria, o projeto da Mesa Y foi pensado sem ferragens ou parafusos, resolvido apenas através de encaixes de madeira. A precisão na construção exigiu o planejamento de todas as etapas, contando com cronograma e um "diário de obra", quase como num canteiro de construção civil. 

Além do móvel em si, foi necessária a confecção de cinco gabaritos, que orientaram os cortes e rebaixos em ângulo.

 

Para o tampo da mesa, foi escolhido o compensado de madeira, por ser leve e com boa resistência à flexão. Para os cavaletes com diversos cortes e entalhes, foi escolhida a muriacatiara, do norte brasileiro, uma madeira maciça resistente e de fácil trabalho por não ser nem muito rígida, nem muito pesada.

O desenho do móvel segue uma lógica construtiva quase à nível arquitetônico: o tampo trabalha como uma viga vierendeel com balanço e resistência à flexão, e os pés, como pilares de apoio.

fotos: Oficinalab

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REBAIXO EM MURIACATIARA

Com a esquadrejadeira e a ajuda de gabaritos com as angulações corretas dos encaixes, foi possível criar um rebaixo nos cavaletes, unindo as pernas do “y”.

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CAVILHA EM MURIACATIARA

Através da confecção manual de cavilhas em muriacatiara, o encaixe dos elementos vertical e horizontal do cavalete foram possíveis. A cavilha, tradicionalmente usada para esconder o parafuso usado, aqui funciona como a própria peça de junção

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MALHETE

(SPLINED MITER JOINT)

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REBAIXO EM COMPENSADO

Com a tupia, foi possível criar rebaixos no tampo, de forma que os elementos verticais da mesa se estruturassem sem a necessidade de perfurar o compensado para uso de ferragens.

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As quinas da estrutura em compensado foram cortadas a 45º, e coladas. Com um gabarito construído em madeira para apoiar a tupia, foi possível cortar dentes onde depois seriam encaixados triangulos em muriacatiara, garantindo firmeza à junta como um todo.

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AS SOLUÇÕES EM MADEIRA DA CASA DE JAJJA

O GABARITO DO ÂNGULO DE 10º DO TELHADO

O processo de construção do projeto iniciou com duas frentes: a execução das fundações da casa e o preparo, corte e montagem das peças de madeira que comporiam a estrutura independente do telhado. Na carpintaria de Paul, além de aplainar e serrar as peças nas dimensões corretas, tivemos o desafio de encontrar uma forma de garantir que todas as treliças que sustentariam as chapas metálicas do telhado e apoiariam nos pilares com sapatas já instaladas respeitassem o mesmo ângulo de inclinação de 10º.

Assim como já havia feito no projeto da Mesa Y, sugeri um gabarito com os poucos restos não reaproveitados de madeira da carpintaria para encaixar as peças e garantir a junção correta. A escassez de material para o gabarito foi um desafio à parte, porque precisaríamos construir um gabarito suficientemente grande para as dimensões da treliça, economicamente viável em termos de material e estruturalmente confiável para que a reprodução do erro próprio da confecção do aparato fosse o menor possível.

A construção exigiu vários cálculos de trigonometria, feitos conjuntamente com a arquiteta franco-equatoriana Marie Combette. Depois de concluído, o gabarito (foto à esquerda, carregado por Marie) cumpriu a função de forma extremamente satisfatória.

fotos: Thais Viyuela

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A FACHADA COM O ARTESANATO LOCAL

O projeto e a pesquisa da fachada principal da casa foram desenvolvidos em paralelo com o resto da construção já que seria uma das últimas etapas a ser executada. 

Quem liderou a pesquisa foi a arquiteta Marie, que acompanhou diversas artesãs e, aprendendo a técnica local, avaliou quais soluções seriam mais adequadas e exequíveis no fechamento da fachada.

Como professoras, tivemos Berna - vizinha da carpintaria e uma das construtoras da oficina - que nos ensinou a confecção dos cestos de palha e o tingimento de folhas de bananeira usadas no cesto, a própria Jajja, com seus tapetes milimetricamente trabalhados e Skola - uma vendedora que conhecemos na beira de uma estrada próxima ao nosso vilarejo - e seus enormes tapetes de folha de papiro.

A partir das pesquisas de Marie, testamos alguns materiais e escolhemos o papiro como solução final para o fechamento, pela execução relativamente simples aliada ao baixo custo.

Para sustentar esse fechamento de folha de papiro, deveríamos desenvolver uma solução em madeira que permitisse uma posterior reposição dessas folhas pelas artesãs locais. Chegamos à uma dupla de quadros em madeira, que formariam um sanduíche, parafusados. Dessa forma, com a ajuda de um carpinteiro, a usuária da casa, Jajja, poderia desparafusar essa estrutura em madeira e refazer o fechamento com seus próprios tapetes.

O projeto, o corte das peças e a montagem das estruturas foi um trabalho coletivo que envolveu o dono da carpintaria, Paul, os funcionários Mugisha e Ssalongo, o ajudante Najib, a artesã Skola, Jajja e Berna.

fotos: Thais Viyuela

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